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Alison Em Edimburgo

Alison Em Edimburgo


Alison Em Edimburgo - Excerto Do Livro

Capítulo Um

Eu era uma estranha para as vielas e becos da velha Edimburgo, onde as névoas giravam em torno dos altos imóveis de pedra e a chuva lavava os paralelepípedos de manhã. Naquela época, eu não sabiaque a cidade antiga possuía milhares de segredos e que ninguém é sempre o que parece à primeira vista. Se quiser, podem me chamar de ingênua, mas somos o que a vida faz conosco e pequena responsabilidade de nós mesmos até aprendermos com experiências amargas.

Você pode conhecer Edimburgo, mas mesmo assim eu vou relembrá-lo a nossa capital escocesa. Ela não se parece com nenhum outro lugar no mundo, pelo menos no meu mundo, pois é uma cidade dividida, com o parque Princes Street Gardens, que foi o lago Nor, uma contradição entre dois opostos. De um lado estão as harmoniosas praças e as linhas clássicas da Cidade Nova em estilo georgiano, a mais elegante das criações, onde casas modernas estão localizadas em fileiras imponentemente refinadas e as pessoas falam em um tom de voz tranquilo. No entanto, atravesse para o lado sul do parque e você entra na confusão medieval da Edimburgo original, aCidade Velha de romancesonde antigamente rainhas roçavam seus ombros nos plebeus, ministros devotos davam conselhos para canalhas incansáveis e grandes damas trocavam práticas obscenas com analfabetos das classes mais baixas. 

“Esta é com certeza a cidade mais romântica do mundo,”eu disse naquele dia de dezembro de 1811 enquanto analisava o contorno acidentado dos edifícios da Cidade Velha.

Louise riu alto, um tanto grosseira, pensei, mas eu a perdoei imediatamente quando ela me presenteou com seu sorriso. Todo mundo sempre perdoava Louise, pois ela tinha uma maneira muito cativante de ser.

“Romance é o que o romance faz,”ela dissede maneira enigmática, e bateu levemente com seu leque de marfim na minha perna. “Mas o que você entende de romance, Alison Lamont?”Seus olhos zombavam de mim, seu azul brilhante tão bonito quanto o beijo de um anjo e tão inocente quanto a cauda do diabo.

Eu não disse nada, poisela tinha tocado emum ponto sensívelem minha vida. Eu realmente não sabia nada sobre romance, ou de muito mais, apesar de falar francês fluentemente, costurar com perfeição e pintar tão bem quanto qualquer moça de dezoito anos. Apenas dois anos mais velha do que eu, minha prima Louise, a bonita e sofisticada senhorita Ballantyne, tinha mais experiência em seu dedo mindinho do que eu tinha no meu corpo inteiro, e ela não sabia disso?

Louise sorriu de novo, mostrando seus dentes perfeitos, que eram seu orgulho. “Não se preocupe, Alison,” ela alertou. “Em breve iniciarei você nas maneiras do romance. Algumas poucas semanas comigo e estará flertando com os melhores rapazes e levando os homens mais amáveisà loucura.”Abrindo seu leque, ela escondeu metade de seu rosto atrás dele e deu uma olhadinha enviesada para mim. “Nós vamos tomar conta desta cidade pelo som de seus calcanhares,”ela disse, “e transformar a diversão.”

Naquele momento estávamos sentadas lado a lado na carruagem da tia Elspeth, sacolejando ao longo da Princes Street com as novas casas refinadas se levantando a nossa esquerda e o castelo erguido como uma sombria sentinela sobre as águas turvas do lago Nora nossa direita.

“Agora há uma perspectiva de termos dias melhores,” Louise estava se esticando na minha frente, equilibrando uma mão no meu joelho enquanto espiava o lado de fora.

      Eu dei uma olhada, primeiro no castelo e depois no lago, que tinha nele o que me parecia ser um barco em chamas. “Aquele barco está pegando fogo,”disse. Louise deu um sorrisinho de desdém e me bateu novamente com seu leque.

“Certamente está,”ela me disse, “pois existe uma estranha criatura lá embaixo que envia barcos para a superfície para depois queimá-los.”

        Eu conhecia estranhas criaturas, pois tinha sido educada com estórias de espíritos e duendes que vivem na água e de cachorros sobrenaturais,mas nunca tinha ouvido falar de alguma que queimasse barcos. Olhei fixamente para fora da janela, esperando ver um monstro com chifre ao lado do lago, mas em vez disso havia apenas um homem alto e um pouco desgrenhado.

“Não há nenhuma criatura ali,”fiquei ligeiramente desapontada com o que vi.

“Este é Willie Kemp,” Louise disse, escondendo uma risadinha atrás do leque. “Ele é a criatura mais estranha que já existiu. Dizem que não fala com mulheres nem com ninguém, mas passa todo o seu tempo fazendo máquinas esquisitas que não funcionam.”

“Ah!”olhei para o lado de novo, pois não tinha nenhum interesse em um homem que fazia máquinas esquisitas. E por que deveria ter, se eu tinha os encantos de Edimburgodiante de mime o baile de Lady Catriona naquela mesma noite?

“Ele não te agrada?”Louise continuava olhando fixamente para fora da janela, obviamente se divertindo com as bobagens deste Willie Kemp. “Ele é uma criaturatão estranha.”Abaixando sua voz, como se nós estivéssemos em uma sala cheia de gente ao invés de sozinhas na carruagem de Lady Elspeth, ela se inclinou perto do meu ouvido. “Você sabe o que algumas pessoas falam sobre ele?”

Eu balancei minha cabeça, “não,”disse, pois realmente era muito ingênua naquela época. “O que elas dizem?”

Louise me contou, nos mínimos e cuidadosos detalhes, estórias que me escandalizariam até mesmo nos dias de hoje, que dirá então, e tenho certeza que estava tão vermelha quanto uma maçã no momento em que ela terminou.

“Oh,”eu disse, enquanto Louise arregalava os olhos com a expressão do meu rosto.

“Ah, minha querida Alison,”disse, colocando uma mão tranquilizadora no meu braço. “Espero que eu não tenha deixado você chocada.”

“De maneira alguma,”menti, querendo desesperadamente um canto para me esconder. Eu era inocente na maioria dos assuntos, com exceção do mais básico.

“Então está tudo tranquilo,” Louise afundou de volta em seu lugar, com o olhar ainda divertido. “Mas é melhor saber estas coisas, você não acha? E melhor que ouça isso de mim, que te amo como se fôssemos irmãs queridas, do que de alguma estranha que não tenha os melhores sentimentos no coração.”

“Claro, Louise,”eu a perdoei imediatamente, poisela estava sempre pensando nos outros. Esta era Louise. “Vai demorar para chegarmos ao baile?”

“Falta pouco. Temos apenas que subir oEarthen Mound e estaremos quase lá. A Forres Residence fica mais ou menos na metade do caminho para Castlehill.”

Eu tinha ouvido falar do Earthen Mound, o grande acúmulo de sujeira e entulho da construção da Cidade Novaque os burgueses prósperos de Edimburgotinham utilizado como ponte e estrada para levá-los à Cidade Velha, mas nunca o tinha visto. O cocheiro fez a maior parte da subida assobiando e gritando para os pobres cavalos da maneira mais grosseira possível enquanto conduzia na curva perigosa.

“Ah, detesto este pedaço,” Louise segurou seu chapéu como se o ângulo da carruagem fosse tirá-lo de sua cabeça inegavelmente bonita.

Suspirei e tentei parecer tão composta quanto sabia. Eu não tinha esquecido suas estórias escandalosas tão rapidamente. Abrindo meu leque, abanava o ar de uma maneira que eu esperava que fosse lânguida. “Isto é um pouco cansativo,” concordei, “mas mal pode ser comparado com as montanhas que temos em Badenoch.”Deixei que ela pensasse sobre isso por um tempo enquanto assistia a paisagem se alterar. ACidade Nova parecia ainda mais impressionante daqui, com os quadrados cinzentos tão regulares contra o verde sombrio da zona rural no inverno.

ACidade Velha, entretanto, era menos agradável e muito menos romântica de perto do que parecia à distância. Eu não sei o que estava esperando, talvez soldados de armadurae cavaleiros sedutores empinando cavalos, mas ao invés disso, entramos em uma rua comprida e inclinada que parecia uma vala presa entre cortiços no alto de um penhasco, ou propriedades,como as pessoas das classes mais baixas de Edimburgoas chamavam. Em vez disso, onde eu esperava heróis românticos, as ruas estavam ocupadas por crianças maltrapilhas usando trajes diversos, do xadrez deHighland que me fizeram sentir muita saudade de casa: calças curtas esfarrapadase camisas rasgadas que teriam envergonhado um espantalho em qualquer campo de Speyside e estariam frequentemente com falta de decência.

“Bem-vinda à High Street,” Louise parecia não se importar com a confusão de pessoas. “Nós sairemos da carruagem em breve.”Seus olhos estavam tão radiantes como eu nunca tinha visto, brilhando por antecipação enquanto ela se preparava para o baile.

O cocheiro parou na entrada do que parecia ser uma ruazinha, mas que eu poderia garantir que era a entrada de um beco, uma das ruas laterais que terminavam em ângulos retos que iam da rua principal para o coração invisível da cidade velha. Ao invés de andar, Louise mandou o homem na frente e ele voltou um minuto depois com dois rapazes corpulentos carregando uma liteira. Eu nunca tinha visto algo parecido antes, mas Louise me garantiu que seu uso era normal entre pessoas civilizadas. Ela se esgueirou para dentro com o farfalhar alto de cetim e um indício de tornozelo à mostra, que chamou a atenção do carregador, mas que certamente deve ter sido um engano.

Agora estou ciente que estes veículos não são comuns nestes tempos modernos, então, para o bem daqueles que nunca viram um, vou descrever uma liteira. Elas não são amplas, sendo um pouco maiores que uma caixa grande o suficiente para levar uma senhora sentada, com cortinas nas janelas laterais e duas longas hastes saindo de cada extremidade. Um homem suspende as hastes da frente e outro pega as hastes de trás, levantam o peso e saem andando, carregando sua passageira com certo grau de confortoe o máximo de privacidade que as cortinas fechadas permitem.

Infelizmente, havia apenas uma liteira e duas de nós, o que significou que eu tive que caminhar alguns passos atrás, como uma criada comum.Então minha apresentação para Edimburgofoiseguindo o cocheiro enquanto eles deslizavam pelos paralelepípedos gordurentos do beco, Uma bela recepção na cidade, você há de concordar, mas o pior ainda estava por vir.

Eu não tinha ideia do quão fétido um beco de Edimburgopodia ser, mas esta curta caminhada foi uma revelação. Parecia que estava andando nos intestinos da terra, com os edifícios surgindo tão altos em ambos os lados que bloqueavam a luz que dezembro permitiae o chão como a morada de todo tipo de imundície que se possa imaginar. Bem, admito que eu era jovem, mas mesmo assim, estava enojada com o mau cheiroe invejava a postura de Louise, jurando nunca mais andar na parte mais antiga de Edimburgo.

E então nós paramos em frente ao que somente poderia ser descrito como uma abertura na parede parecida com um penhasco da construção.Eu estava esperando que a entrada da residência de Sua Senhoria fosse alguma coisa majestosa, com amplas escadarias e lacaios de libré à disposição, mas em vez disso era um pequeno buraco apertado em uma torre circular elevada. A única coisa que se salvava era o brasão esculpido acima da enorme porta ornamentada. Aquilo era realmente incrível, feito de rocha maciça e obviamente antigo, com as armas de Sua Senhoria tão firmes quanto a própria Escócia.

“Levem-me para dentro,” Louise ordenou, assim que os carregadores pararam do lado de fora da porta, Os pobres rapazes, bufando com o esforço, tiveram que levantar toda a engenhoca novamente e manobrá-la pelo vão da porta.

Uma vez lá dentro, todos os meus preconceitos foram eliminados. Esta curta caminhada pelo beco fedorento me preparou para uma residência repugnante e miserável com cômodos escuros, mas a realidade não poderia ter sido mais diferente. Enquanto Louise se desvencilhava da liteira emuma enxurrada de cetins, saias e anáguas artisticamente exibidas, eu subi uma escada em espiral que começava no saguão de pedra e fui surpreendida pelo salão mais impressionante que já tinha visto.Nem Sir Walter Scott poderia ter projetado uma coisa tão maravilhosa, com enormes lambris de carvalho, um retrato pintado por Norrie, supus, apesar de poder ter sido feito por Raeburn, olhando melancolicamente para baixo,e uma lareira tão grande que metade de um rebanho de gado poderia ter sido assada ali. Havia uma longa mesa oval extremamente polida que podia refletir meu rostoe um exército inteiro de cadeiras estofadas em posição de sentido em volta dela. Parecia acorte do Rei Arthur, se não fosse iluminada por um lustre que oscilava lentamente e comandada por duas das figuras mais incríveis que eu já tinha tido o prazer de ver.

Uma delas era simplesmente a senhora idosa mais elegante que se podia imaginar.Devia ter oitenta anos, pelo menos, e vestia a ampla saia e o decote pronunciado que eram moda na França na sua juventude. Ela poderia ter saído diretamente de um quadro da corte do Rei George, exceto pelo grandioso turbante verde em sua cabeça eo leque de marfim que languidamente sacudia na frente de seu rosto branco maquiado com pó de arroz, realçado por belas pintas escuras. Eu me abaixei fazendo uma delicada reverência, pois apenas uma verdadeira dama poderia se vestir com tanto estilo. Ela retribuiu com um cordial aceno de cabeça.

“Senhorita.”

Seu acompanhante era alto, com uma longa capa de viagem verde e um chapéu alto de castor preto brilhante que ele retirou em sinal de respeito assim que eu entrei no salão. Ele colocou a perna de uma maneira elegante, mas o resultado não foi o esperado, pois teve que apanhar seu chapéu, que despencou perigosamente de sua cabeça e quase caiu no chão aos meus pés.

“Senhorita Ballantyne?”ele disse quando se endireitou, falando com um leve sotaque e uma estranha fala arrastada que eu nunca tinha ouvidoantes.

“Não, senhor,” corrigi gentilmente. “A senhorita Ballantyne é minha prima. Eu sou Alison Lamont.”

“Ah.”Tardiamente o cavalheiro retirou seu “finalmente apanhado“ chapéu, que entortou sua peruca e deixou que um topete de cabelo castanho caísse sobre o rosto muito bronzeado para ser elegante, mas que ainda parecia bem razoável.

Encarei aquele rosto, me perguntando a que tipo de homem poderia pertencer.Embora tivesse as características de um desconhecido, tinha tanta amabilidade que não pude deixar de sorrir. Seus olhos eram tão verdes quanto um pequeno lago na montanha e seu nariz longo, reto e imponente era tão característico da Highlandquanto a turfa.

“Alexander Forres,” ele se apresentou. “E esta é minha mãe, Lady Catriona Forres, da Casa de Forres e da ForresResidence.”

Eu fiz novamente uma reverência, que ele retribuiu com uma saudação muito mais satisfatória.

Louise entrou em seguida de forma apressada, com uma das mãos levantando suas saias e a outra apertando seu leque como se fosse uma arma de guerra, e não uma lasca dobrável de marfim entalhado.

“Então a senhorita é Louise Ballantyne,” Alexander Forres fez a correta dedução, curvando-se mais uma vez.

Louise se abaixou fazendo sua mais elegante reverência, exibindo deliberadamente seu decote bastante generoso aos olhos de Forres, que desviou o olhar como um verdadeiro cavalheiro faria. Eu gostei dele imediatamentee prometi que se eu algum dia fosse afortunada o bastante para encontrar um pretendente, ele deveria ser do mesmo quilate e possuir as mesmas maneiras refinadas que o ilustre Alexander, embora devesse ser bem mais jovem.

“Pois bem,” Lady Catriona falou pela primeira vez e todos naquela sala fizeram uma pausa para ouvir. “Agora que todos nos conhecemos, talvez devêssemos ir para o andar de cima, poiseu tenho certeza que não haverá dança neste salão.”

Nós a seguimos, claro, e vocês nunca viram tantas moças coquetes e dândis antes, que fizeram o mesmo que Louise e eu, de modo que o grande salão já estava transbordando de mulheres alvoroçadas e homens vaidosos. Ignorando qualquer pretensão de delicadeza, Lady Catriona subiu uma escada em espiral, com a ampla saia arrastando em ambos os lados de uma só veze os sapatos amarelos de salto alto fazendo barulho no chão de pedras. Para onde Lady Catriona nos conduzia, tínhamos necessariamente que segui-la. Como ela não fazia comentários sobre a pobreza nos seus arredores, nenhum de nós poderia fazer. Mesmo assim, estava surpresa com a falta de decoração naquela escadae com as tochas antiquadas que iluminavam nossa passagem. Com certeza não havia nada de bom gosto.

Nós ficamos indecisos em frente a uma porta envernizada na qual algum mestre artesão antigo tinha esculpido o escudo de Forres e pela qual pairavam os sons da festança e da música. Eu respirei fundo e alto.

“O que você está fazendo?” Louise perguntou e eu esclareci queera muito elegante uma moça tero rosto corado antes de entrar em um baile.

“Mas não assim,” Louise disse e beliscou as bochechas, para que o rubor surgisse.

Eu a imitei, porém mais timidamente, de modo que meu rosto manteve sua cor de pele pálida.

 “Céus,” Louise disse com um movimento de cabeça reprovador. Retirando sua luva direita, ela me deu um sonoro tapa na bochecha esquerda. “Agora sim,”ela disse com satisfação e repetiu o comportamento com bastante energia do outro lado. “Assim está bem melhor.”

Muito surpresa para gritar, só pude perceber com admiração como Lady Catrionaacenou sua cabeça em sinal de aprovação.

“Todas nós devemos nos submeter à moda, não é? Você agiu como faria uma irmã, senhorita Ballantyne.”

Com meu rosto queimando esem me preocupar em agradecer Louise pela sua gentileza, continuei exatamente atrás de Lady Catriona enquanto ela empurrava a porta e entrava no salão do andar de cima.   

Eu não consegui entrar, pois tive que parar e admirar. O salão de cima era bem amplo. Com certeza tinha todo o comprimento da casa, com um teto cuidadosamente rebocado e uma série de janelas que se estendia ao longo de duas paredes inteiras. Lustres de cristalespalhavam sua luz em paredes revestidas, enquanto chamas de proporções quase medievais crepitavam na lareira.

Todos estes detalhes, claro, não tinham a menor importância quando comparados com as pessoas. Aqui os convidados de Lady Catriona se destacavam mais do que qualquer coisa que eu tivesse visto antes e mais doque vi desde então. Eu mencionei as moças coquetes e os dândis na escada em espiral, mas eles eram apenas uma amostra do que nos esperava no salão de cima. Posso ter vistoa nata da sociedade em Badenoch, mas até aquela noite eu era uma iniciante na sociedade sofisticada.

Meu primeiro choque foi com o escarlate e as penas, com os esporádicos kilts militares juntos com o sporran, a pequena bolsa usada com os trajes tradicionais escoceses. Eu cresci bem no coração das Highlands, mas nunca tinha visto saias kilts como aquelase a visão me fez abafar uma risadinha pouca feminina e bastante grosseira. De onde eles tiraram aquelas ideias sobre o traje da Highland? Certamente fiquei boquiaberta com os altos gorros de pena e com os sporrans muito elaborados, as mantas inúteis e as facas decoradas à Cairngormsque poderiam tanto ser da Highlandcomo da China, mas estava impressionada com o completo senso de ostentação.

Entretanto, eu achava que os usuários daqueles trajes exóticos mais do que compensaram sua aparência estranha. Para um homem eles eram altos, enquanto que os que não eram jovens e bonitoseram dignos e imponentes e todos eram bélicos o suficiente para assustar Bonaparte. Pude perceber Louise se alongando para ficar mais alta, mesmo quando arqueou suas costas e colocou sua mais soberba expressão.

“Muito bem,”ela disse delicadamente, “que maravilhosa exibição de oficiais. Agora siga as minhas instruções, jovem Alison, e nós podemos encontrar um bom marido para você.”

“Marido?”eu disse, ou melhor, grasnei, poisestava certa de que minha voz tinha subido várias oitavas, “Eu não vim aqui atrás de um marido!”

A expressão de Louise era uma mistura de perplexidade e divertimento. Mais uma vez ela segurou seu leque, fechou e cutucoubruscamente meu braço. “Você não veio aqui atrás de um marido? Minha querida prima Alison, diga-me por qual outro motivo você porventura viria ao baile de Lady Catriona?”

Eu não podia responder que estava ali apenas pela dança e porque tia Elspeth tinha resolvido que deveria ir. Então, ao invés disso, fiquei olhando para ela boquiaberta.

“Exatamente assim,” Louise resolveu tomar o meu silêncio como um consentimento. “Então vamos dançar.”

E nós fomos.

Eu já tinha dançado em muitos lugares elegantes, mas sempre irei me lembrar daquela noite quando fizemos uma despedida calorosa de1811 e demos as boas-vindas ao recém-chegado 1812. E que ano ele iria se revelar! Mas claro que ainda não sabíamos disso enquanto fazíamos piruetas, nos inclinávamos e rodopiávamos durante a noite emuma efervescência de cores vivas, ombreiras cintilantes e o barulho dos kilts.

“Você dança excepcionalmente bem, senhorita...senhorita...Desculpe, mas eu não sei o seu nome.”

Meu parceiro naquele momento era tão alto quanto qualquer membro da Guarda Real Britânica, com cabelo escuro elegantemente desalinhado e uma túnica escarlate que não fazia nada para esconder os culotes brancos tão apertados que poderiam ter sido pintados no local.

“Nem eu sei o seu, senhor, já que ainda não fomos formalmente apresentados,”disseligeiramente solene, pois não estava acostumada àquele tipo de comportamento ousado vindo de um homem que se apresentava como um oficial e cavalheiro. 

“Bem, este é um problema fácil de resolver,”disseindiferente a minha atitude impulsivae rapidamente me levou pelo salão lotado até o ilustre Alexander Forbes,que fez as formalidades necessárias.

“Minha querida senhorita Alison,” Alexander fez uma elegante reverência, “permita-me apresentá-la ao meu filho mais novo, o honrado John Forres, tenente da Milícia de Edimburgo.”

O jovem encantador fez uma reverência sofisticada, apesar de um pouco zombeteira.

“John, eu tenho o maior prazer em apresentar a senhorita Alison Lamont, sobrinha de Lady Elspeth Ballantyne, que veio de Badenoch apenas para este baile e, creio, para alguns outros assuntos de família.”

John Forres fez outra reverência,tão baixa que receei, ou talvez tenha torcido, para que suas calças tivessem rasgado e o deixado embaraçado na frente de toda a sociedade. Mas o diabo o protegeue, ao invés disso, ele apenas deixou todos encantados com sua elegância. Estendeu sua mão, mas eu declinei da provocação de um beijo e me distanciei. Infelizmente minha mais indiferente formalidade foi prejudicada quando Louise se aproximou e pisou na cauda do meu vestido, de modo que fiz um movimento brusco e uma parada muito deselegante. Tenho certeza que ela fez isso de propósito, a assanhada.

“E esta é a senhorita Louise Ballantyne,” Alexander Forres não percebeu a ligeira investida feita por Louise.

Ele também se abaixou bastante para fazer a reverência, mas Louise não tirou sua mão e o tenente Forres aproveitou ao máximo esta oportunidade. Ele deve ter se demorado mais de um minuto antes de se levantar, mas Louise não se importou em absoluto com isso. Não havia mal-entendido no brilho de seus olhos quando ela me encarou e nenhuma ambiguidade no seu olhar de triunfo, que eu era muito jovem para entender. Porém aprendi logo, como vocês vão ver.

Lady Catriona tinha contratado uma pequena banda para tocar para nós e, assim que começamos a dançar, não paramos,exceto para beliscar na mesa de aperitivos ou participar de conversas ligeiras. Não consigo me lembrar exatamente do que dançamos, cirandas eu acho, e de vez em quando danças da Highland, finalizadas com gritos altos e os mais elaborados passos. A valsa não durou mais do que um ano na Escócia, já que foi considerada em geral indelicada. Sinceramente, meus caros, vocês não têm ideia de quanta hipocrisia regulava nossa vidas, quando assuntos românticos eram considerados normaise apenas se transformavam em escândalo se fossem exibidos em público, já que até mesmo usar um pouco de maquiagem era motivo para ser colocada no ostracismo pela respeitável sociedade. A vida é tão diferente hoje em dia.

Lady Catrionanão era conservadora em suas preferênciase logo estávamos dançando uma quadrilha, com todos os cavalheiros e damas caoticamente juntos naquele salão do andar de cima. Se fechar os olhos, posso descrever agoratodos os kiltsrodopiando e os vestidos esvoaçantes, o brilho do exercício físico nas testas nobres,os olhos e sorrisos iluminados e o brilho da seda e do cetim. Quase posso ouvir a batida ritmada dos pés naquele assoalho polido e ver o reflexo dos lustres nas janelas. Talvez vocês nunca tenha ouvido falar sobre a quadrilha, uma das mais fascinantes danças, com movimentos complexos que os jovens nunca irão apreciar ou provavelmente compreender. Enquanto estávamos envolvidos, o tenente John Forres se aproximou novamente, com seus culotes apertados e todo seu orgulho, parecendo querer ser meu parceiro pelo resto da noite.

O último Herói

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Simbiose

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