Summary Block
This is example content. Double-click here and select a page to feature its content. Learn more
Summary Block
This is example content. Double-click here and select a page to feature its content. Learn more

Testi

Testi

Testi

Testi

Simbiose

Simbiose - Excerto Do Livro

Prólogo

(Quénia Ocidental, 6 de abril de 1954)

O sol era uma esfera carmesim no horizonte ocidental, pintando o céu com um mosaico de cores, o âmbar desvanecendo-se para dar lugar ao vermelho, depois ao roxo e ao azul. Os caules de erva alta balançavam ao vento que varria o campo.

Uma pequena elevação erguia-se acima do local da escavação onde homens de chapéus de palha trabalhavam com pás no calor opressivo. Eles não iam ficar satisfeitos por serem tão pressionados, mas tinha que ser assim. Ou voltavam para casa com algo de valor ou Cambridge não financiaria outra escavação.

Kennneth Barnes estava no cimo da elevação.

Um homem alto, de calças bege e uma camisa branca que se lhe colava às costas com o suor, passou a mão pelos cabelos lisos e escuros.

- Continue, Crawford! – gritou ele. – Não há tempo para mandriar.

Kenneth mordeu o lábio e sentiu o rosto a arder. Fechou os olhos com força.

- Idiotas, todos eles, – murmurou abanando a cabeça. – Totalmente inútil a menos que tenham vontade de deitar dinheiro fora.

- Você é muito duro com eles.

Ele voltou-se.

Uma jovem estava a três metros de distância com as mãos entrelaçadas atrás das costas. Alta e esbelta, usava uma saia preta e uma camisa branca que, de alguma forma, não tinha manchas de suor. O seu rosto era de um oval perfeito, emoldurado por longos cabelos ruivos que lhe caíam sobre os ombros e lhe chegavam ao fundo das costas.

- Seja paciente, Dr. Barnes, - advertiu ela. – Tenho a certeza de que esta viagem será proveitosa.

Kenneth sentiu os lábios encurvar, depois inclinou a cabeça na direção dela.

- Acredita mesmo nisso, não acredita? – Perguntou ele a franzir a testa. – Então, talvez me possa explicar por que razão está constantemente a atormentá-los.

Desde que tinham posto os pés neste local de escavação, Chelsea Lawrence tinha sido uma fonte constante de frustração. Nomeada pela Comissão de Despesas Parlamentares, o trabalho dela consistia em assegurar que o investimento da Coroa neste projeto era recompensado. Como é que uma mulher conseguia alcançar uma posição destas é que ele não conseguia perceber, mas havia dias em que podia sentir o olhar dela nas suas costas.

Kenneth limpou a testa com as costas da mão, estremeceu e afastou os olhos dela.

- Não se preocupe, Miss Lawrence, - continuou ele. – Tenho a certeza de que os conhecimentos que adquirirmos aqui hoje serão...

- O conhecimento é domínio dos estudiosos, Dr. Barnes. – Ela levantou o queixo para olhar para ele com uns olhos cinzentos que pareciam drenar o calor do ar. – O meu interesse consiste em certificar-me de que os fundos que lhe foram concedidos são sensatamente gastos.

- Está a pôr em causa os meus métodos?

Chelsea Lawrence cruzou os braços em frente do peito e estudou-o de lábios cerrados.

 – Está surpreendido? – perguntou ela erguendo as sobrancelhas. – Pode não se ter apercebido disso, senhor, mas os Mau Mau são uma ameaça séria.

- Estou bem ciente de…

Ela aproximou-se até o seu rosto ocupar o campo de visão dele mantendo-o pregado ao lugar apenas com a força do seu olhar.

 – Os soldados que empregamos para proteger este … local de escavação, - o escárnio que investiu naquelas últimas palavras era óbvio, - podiam ser melhor aproveitados para caçar os inimigos da Coroa.

Lidar com esta mulher era como tentar caminhar com uma farpa no dedo grande do pé. Quando encontrasse o homem que contratara Chelsea Lawrence para este projeto iria dar um murro na cara gorda desse louco.

- Dr. Barnes!

Ele rodou sobre si mesmo e viu que um homem estava a olhar para ele lá do local da escavação, um homem alto com um chapéu de palha na cabeça.

- Tem que vir aqui, senhor! – continuou o sujeito. – Está aqui uma coisa que devia ver!

A descida até ao local da escavação só piorou o seu aborrecimento. Estes idiotas tinham a mania de o chamar quando encontravam uma pedra que se parecesse com uma ponta de seta; era muito pouco provável que tivessem encontrado alguma coisa útil.

Encontrou Crawford e outros dois homens de pé, perto de um buraco no chão com montes de terra revirada ao lado. O sujeito magro estava a acenar rapidamente com a cabeça enquanto falava para um dos outros trabalhadores.

Esfregando a cara com a mão, Kenneth franziu os lábios e piscou algumas vezes.

- Deduzo que encontraram alguma coisa? – Ele sentiu a boca a apertar-se, fechou os olhos e abanou a cabeça. – Mais uma ‘ponta de seta’, Mr. Crawford?

O homem ficou vermelho e depois baixou os olhos para o chão.

 – Bem, senhor… não. – Ele limpou a testa com o nó de um dedo. – Vai ter que ver por si próprio. Isto é… não há palavras.

Kenneth chegou-se à frente.

Dentro do buraco descobriu uma peça de metal triangular que, quando estivesse de pé, seria da altura de um homem adulto, com sulcos sinuosos sobre a sua superfície. A visão do objeto deixou-o paralisado.

Apertando a mão sobre a boca aberta, Kenneth fechou os olhos com força.

 – Isto não está certo, - disse ele a abanar a cabeça. – Chamem aqui o Capitão Langford. Quero um relatório sobre quem quer que tenha posto os pés neste local de escavação.

- Senhor?

A luz vermelha do sol que se punha brilhava na superfície refletora do triângulo.

– Esta coisa foi feita pelo homem, - continuou Kenneth, - o que nos diz que alguém a pôs aqui. Portanto, a não ser que pensem que os caçadores-recolectores das tribos da África Oriental tinham um conhecimento secreto sobre metalurgia, alguém tem andado a adulterar o nosso trabalho.  

Milhares de estrelas minúsculas brilhavam no céu noturno, e o quarto de lua providenciava luz mais do que suficiente para Kenneth distinguir as covas e os montes de terra espalhados por todo o local da escavação. No cimo da elevação, a erva alta ondulava na brisa. Os homens tinham ido para as tendas há horas.

Kenneth ainda estava acordado.

O triângulo tinha sido levantado sobre a sua base no meio do campo da escavação, com a luz do luar a refletir-se na sua superfície. Deu por si fascinado com a visão daquilo. A descoberta que tinham feito ontem tinha deixado toda a gente, no campo, alvoroçada com teorias sobre a sua origem. Miss Lawrence estava fora de si.

Levantando uma caneca de café numa das mãos, Kenneth fechou os olhos enquanto o vapor lhe banhava o rosto.

- Pelo menos a mulher acalmou. - Levou a caneca aos lábios e bebeu um gole. - Um dia de silêncio é a sua própria recompensa.

Kenneth deu um passo em frente.

A morder o lábio inferior, baixou os olhos para o chão.

– Agora, quanto tempo tenho para estar contigo? – Perguntou a franzir a testa, - antes que alguém te leve para algum armazém empoeirado?

O triângulo permaneceu silencioso e sinistro, o luar prateado a refletir-se no seu canto superior. O sonho de um arqueologista! Isto, claro, se a maldita coisa não fosse apenas um embuste perpetrado por nativos Quenianos descontentes. Ou, possivelmente, os Mau Mau. Eles fariam qualquer coisa para fazer com que a Coroa parecesse incompetente.

Apertou o queixo com uma das mãos e depois fechou os olhos com força.

– Com a minha sorte, algum presumido do MI-6 vai apropriar-se de ti. – Este pensamento fez com que se sentisse desapontado. – Para que possam esconder-te antes que os rumores se espalhem.

Algumas das histórias mais coloridas que circulavam pelo campo incluíam homenzinhos verdes, provenientes de Marte, a deixar esta coisa no meio das pradarias africanas. Nada mais do que o produto de imaginações desenfreadas, mas Kenneth não fez nada para desencorajar os seus homens de partilharem aquelas teorias. Não fazia parte do trabalho dele…

O triângulo começou a zumbir.

Em pouco menos de um momento os sulcos ao longo da sua superfície começaram a brilhar com uma intensa luz branca. Homenzinhos verdes, de facto! Uma corrosiva sensação de terror no estômago ordenava-lhe que fugisse, mas não conseguiu.

Ele aproximou-se.

Protegendo a cara com uma das mãos, Kenneth espreitou a coisa por entre os dedos abertos.

- Olá? - gritou ele. – Está alguém a ouvir-me? Olá? O meu nome é Dr. Kenneth Barnes do… - Quando estava a cerca de um metro do triângulo, formou-se uma bolha à volta do seu corpo, uma esfera perfeita de ar ondulante que fazia com que parecesse que ele estava a ver o local da escavação através de uma cortina de água. A elevação era um borrão sombrio à sua direita, ondulando e flutuando. – Que Deus me ajude, - murmurou Kenneth.

Ele foi sugado rumo ao esquecimento.

(Atualidade)

Mais um dia no armazém. Havia dias em que ser um segurança era simplesmente uma chatice. Quer fossem as horas de tédio ou a exaustão de fazer o turno da noite, mais cedo ou mais tarde o trabalho iria matá-lo. Ainda assim, era bastante difícil arranjar trabalho nesta economia e este oferecia treze dólares à hora.

Doug deu uma dentada no hambúrguer. Fechou os olhos e mastigou mecanicamente enquanto saboreava.

– Mmm… mmm… mmm… - dizia ele a abanar a cabeça. – Não há nada no mundo como o Greasy Joe.

O armazém onde tinha sido colocado para completar o turno estava localizado na subcave: uma sala enorme, quase do tamanho do ginásio de uma escola secundária, com paredes de betão. Mais de uma dúzia de caixotes de madeira estavam espalhados pelo chão. O que é que elas continham exatamente, não era importante para ele.

A única coisa que o incomodava mesmo, era o estranho objeto triangular no meio da sala. Quase tão alto como um homem, com sulcos ao longo da sua superfície de metal que lhe faziam lembrar veias, a coisa quase cintilava sob as luzes fluorescentes.

Limpando a boca com um guardanapo, Doug estremeceu e abanou a cabeça.

– Gente rica e os seus brinquedos, - murmurou, encostado à parede. – Quem, em nome de Deus, iria alguma vez comprar um pedaço de merda como aquele?

Os patrões dele, claro.

A Penworth Enterprise era uma das maiores companhias de navegação do país e dominava o mercado desde o final dos anos noventa. Eles levavam e traziam material através do Atlântico. O trabalho de Doug era mantê-lo em segurança.

Doug cerrou os dentes e voltou o rosto para o teto. Semicerrou os olhos perante as desagradáveis luzes fluorescentes.

– Vinnie, estou a começar a ficar farto disto, - murmurou como se o patrão o pudesse ouvir. – Só por uma vez, gostava de estar num lado qualquer para além do…

Um estranho zumbido chamou-lhe a atenção.

Os sulcos ao longo da superfície do triângulo começaram, de repente, a brilhar com uma luz branca resplandecente. A cada segundo que passava ficavam um pouco mais brilhantes até que ele pensou que podiam explodir. Como é que, em nome de Deus…

O hambúrguer caiu ao chão.

Antes de poder falar, apareceu uma bolha vinda de lado nenhum, uma ondulante bolha pulsante que se tinha imobilizado à frente do triângulo. Quando se concentrou, pensou que podia ver alguém de pé lá dentro.

A bolha rebentou.

Um homem estava parado à frente do triângulo. Alto e magro, usava um longo casaco escuro. O seu rosto de pele clara apresentava as marcas ligeiras de um homem de meia-idade e cabelos grisalhos coroavam o topo da sua cabeça.

O homem ergueu o queixo e franziu os lábios enquanto estudava Doug.

Kom Jen endi? – disse ele com rugas a formarem-se-lhe na testa. – Kom enday Wesley Pennfield ay kay tan enda? Nom ademi dasa.

Doug puxou da pistola.

Estendeu o braço, semicerrou os olhos e apontou.

– Agora, já chega dessa conversa, - disse ele abanando a cabeça. – Quem é você?

O homem deu um sorriso traiçoeiro, depois fechou os olhos e inclinou a cabeça para Doug.

Nom velens, men beli, - disse ele dando um passo em frente. – Nom dobera tosk veK deesa elinsinai en del vorad.

O homem levantou a mão.

Estava alguma coisa fundida na pele da palma da mão dele: um estranho dipositivo circular com luzes a piscar na sua superfície. Uma parede de energia apareceu mesmo em frente do homem. Aos olhos de Doug, aquilo parecia-se com a estática que se vê nos canais de TV sem emissão.

O homem estendeu a mão.

Sem mais nem menos, a parede de estática veio a correr para a frente. Doug teve meio segundo para disparar um tiro antes de aquilo o atingir com toda a força de um comboio de carga. Quando deu por si, estava a voar para trás.

Colidiu com a parede de betão e depois caiu com força no chão. Caiu de lado, enrolado sobre si mesmo e com dores da cabeça aos pés.

 – Que Deus me ajude… - Murmurou Doug. – Meu Deus, por favor ajuda-me.

A bolha parou e ela viu-se numa área brilhantemente iluminada, encapsulada pela esfera de energia ondulante. Através da cortina cintilante podia ver o que parecia ser caixas.

A bolha rebentou.

Vestida com calças cinzentas e uma camisa preta sob um longo casaco castanho, Anna Lenai olhou em volta. Os seus dedos fecharam-se à volta do punho de uma pistola dentro do coldre na anca direita. Com alguma sorte não iria precisar dela.

O seu rosto redondo estava emoldurado por fios finos de cabelos loiros com franjas de ouro caindo-lhe sobre a testa.

 - Todas as moléculas intactas - disse ela, erguendo as sobrancelhas. – Que o Companheiro seja louvado por pequenas maravilhas.

Anna apertou os lábios e olhou por cima do ombro. Semicerrou os olhos.

 - A maldita coisa ainda funciona depois de dez mil anos, - murmurou ela. - Tens que a entregar aos Vigilantes.

O SlipGate ficou silencioso e sinistro atrás dela com a luz a desaparecer dos sulcos ao longo da sua superfície triangular. Depois de ter estado enterrado durante tanto tempo, seria de esperar que a coisa tivesse deixado de funcionar, mas quando o vaivém dela detetou a presença daquilo à superfície, ela tinha ficado a saber para onde Denario tinha fugido.

Parecia que estava num grande armazém com caixas de madeira colocadas a intervalos no chão de mosaicos brancos. No teto cintilavam luzes fluorescentes. Portanto, esta gente alcançou um estado de desenvolvimento pós-industrial. É bom saber.

Anna apertou os lábios e fechou os olhos. Deixou tombar a cabeça.

– Estás a ouvir-me, Dex? – perguntou. Quando não obteve resposta, Anna bateu no auricular para restabelecer a ligação. – Dex?

Estática.

- Fantástico.

O Nassai dentro dela agitou-se, sem dúvida apreensivo por se encontrar preso num planeta desconhecido e sem qualquer ideia do que esperar dos nativos. Os scans a partir da órbita tinham confirmado que eles eram humanos. Uma colónia tão longe? Porque é que não havia qualquer registo? Mas isso não lhe dizia nada sobre o temperamento deles.

Com a ajuda do seu Nassai, Anna conseguia projetar um mapa mental da sala, uma imagem a 360 graus da área envolvente. A acuidade espacial era um dos vários benefícios da simbiose. Conseguia ver cada caixote, cada bocado de lixo e até à última réstia de luz no teto, sem voltar a cabeça.

Não havia movimento.

Depois de abrir caminho pelo meio de algumas caixas, encontrou um corredor que levava à saída da sala com o corpo de um homem espalhado no chão, à entrada do corredor. Estava enrolado sobre um dos lados a gemer de dor.

Anna correu para junto dele.

O homem trazia umas calças pretas e uma camisa branca e uma estranha peça de roupa à volta do pescoço. Um guarda? Definitivamente, a última vítima de Denario. O pobre sujeito deixou escapar outro gemido.

Anna sentiu que o sangue lhe fugia do rosto. Mordeu o lábio, fechou os olhos e inclinou a cabeça.

 – Tu vais pagar por isto, Denario, - disse ela ajoelhando-se ao lado do homem. – Olá? Consegue ouvir-me?

O homem ficou a olhar fixamente para ela, de boca aberta, os seus olhos escuros arregalados de medo. Ele piscou algumas vezes. Qual seria a gravidade dos seus ferimentos? O sujeito tentou falar, mas tudo o que ela ouviu foram alguns sons guturais inarticulados.

Um grito fê-la saltar.

Quando olhou para cima, um trio de guardas marchava pelo corredor. Estavam vestidos de forma idêntica ao homem que estava no chão e os rostos apresentavam uma expressão rígida. O do meio deixou escapar um rugido.

Ele parou à frente de Anna.

Tirou uma pistola do coldre que trazia no cinto, estendeu o braço e apontou-lhe a arma. Saíram-lhe palavras da boca, seguidas de um sacudir de cabeça e ela teve a clara impressão de que isto não ia correr nada bem.

Ana esticou o pescoço e olhou para ele. Pestanejou algumas vezes a pensar no que devia dizer.

- Eu não sou vossa inimiga, - começou a dizer numa voz ligeiramente rouca. – Estou aqui para ajudar. Este homem precisa de cuidados médicos.

O guarda rosnou.

Anna pôs-se de pé.

Nesse momento, os outros dois passaram por ela para inspecionarem o armazém. Com o seu elevado sentido de consciência espacial conseguia saber onde estavam ambos. Não convinha ser apanhada por trás.

O primeiro guarda arreganhou os dentes e esfregou o rosto. Deixou escapar um silvo baixo antes de continuar a gritar com ela. Fosse o que fosse que este homem dizia, ela estava absolutamente segura de que ele estava a perder a paciência.

Anna apertou os lábios, depois ergueu o queixo para o olhar de cima.

- Não vê que estou a cooperar? – disse ela de sobrancelhas levantadas. – Eu não o quero magoar mas está a deixar-me impaciente.

O homem apontou-lhe a arma à cara.

Não tenho tempo para isto.

Anna caiu para trás.

Bateu com as mãos no chão de mosaicos e levantou as pernas para agarrar a arma com os pés. Arrancou-a das mãos do homem e atirou-a pelo ar.

Anna pôs-se de pé rapidamente.

Ela saltou e deu um pontapé, atingindo o peito do homem com um pé. O impacto fê-lo recuar aos tropeções, aterrar com força sentado no chão e deslizar pelos mosaicos do chão. Deixou escapar um gemido doloroso.

Com a consciência espacial aumentada, a sua mente frenética projetou a imagem de um dos guardas a aproximar-se por trás dela. Um homem grande, com o peito em forma de barril, abriu os baços como se a fosse agarrar num abraço de urso.

Ele atacou-a.

Anna levou a mão atrás, por cima do ombro, e agarrou no pulso dele com uma das mãos. Inclinou-se para a frente e virou-o por cima do ombro deslocando-lhe o braço, no processo. O homem aterrou de costas no chão com um grito.

Ela girou mesmo a tempo de ver o terceiro homem a tentar tirar a pistola do coldre. A cara dele brilhava de suor enquanto olhava para ela de boca aberta, com o medo visível nos olhos.

Ele conseguiu libertar a arma.

Anna tirou-lhe a arma da mão com um pontapé. Ela girou como um redemoinho e atingiu-o no nariz com o cotovelo.

A cabeça do homem foi atirada para trás com o sangue a escorrer do nariz. Ele cambaleou e depois caiu para o lado. Agora havia quatro guardas no chão. Que bela coisa tinha feito aqui.

Anna sentiu a boca contrair-se ao olhar para ele, os seus olhos azuis moviam-se para trás e para a frente. Ela estremeceu e abanou a cabeça.

– Eu não queria fazer isto, - começou, - eu, aqui, estou do seu lado.

Rodou nos calcanhares.

Meteu pelo corredor e continuou a vigiar os homens caídos, com a ajuda do seu Nassai. O que tinha derrubado primeiro estava a levantar-se e a dobrar-se como se procurasse a arma.

Ele não era nenhuma ameaça.

Ela dobrou a esquina.

Hoje, a boa sorte tinha estado com ela; tinha conseguido escapar aos três guardas sem ter que recorrer a nenhuma das suas habilidades mais brilhantes. Guardiães da Justiça, como ela própria, tinham um vasto arsenal de talentos para além do simples combate corpo-a-corpo, mas cada utilização tinha um custo, tanto para o Nassai como para o hospedeiro. A utilização excessiva podia ser fatal. Era muito melhor desarmar o inimigo com as próprias mãos do que correr o risco de desmaiar.

Com um pouco de sorte iria conseguir encontrar Denario antes que ele pudesse ir muito longe. Esta cidade podia ser um labirinto para ambos e apostava que as pessoas daqui não estavam preparadas para a tecnologia que ele tinha à sua disposição. A sua maior preocupação, no entanto, era o prisioneiro que ele levava com ele.

Ela tinha que o recuperar.

Depois de uma longa caminhada até ao primeiro andar – caminhada em que tivera o cuidado de não chamar a atenção de nenhum dos guardas – Anna encontrou-se num átrio com um conjunto de portas duplas que davam para uma rua da cidade. Através o vidro podia ver o que parecia ser automóveis na estrada.

À distância, edifícios altos erguiam-se em direção ao céu noturno, alguns com luzinhas nas janelas.

Que grau de ameaça poderia ela esperar destas pessoas? O pensamento de enfrentar os locais deixava-a enjoada.

Anna parou de repente.

Comprimiu os lábios e olhou pela janela e depois semicerrou os olhos.

– Uma enorme quantidade de civis, - disse ela a abanar a cabeça. – E uma boa possibilidade de alguém ficar ferido.

Empurrou a porta.

Uma vez lá fora, Anna encontrou-se num corredor colunado com pilares de mármore que suportavam um alpendre, e degraus que levavam ao passeio. Os automóveis que estavam estacionados ao longo do passeio bloqueavam-lhe a visão da estrada.

Tirou a pistola.

Anna deu um passo em frente a segurar a pistola com as duas mãos e parou no cimo dos degraus. Agora, onde é que ele está? Pensou ela olhando em volta. Ele só tinha alguns minutos de avanço. Não pode estar…

Avistou um homem a pouca distância, no passeio, agachado arás de um dos automóveis estacionados e a observar a estrada como se estivesse à procura de uma oportunidade de atravessar para o outro lado. Os cabelos grisalhos na parte de trás da cabeça estavam desgrenhados.

- Denario!

Ele voltou-se.

Anna cerrou os dentes e sentiu a cara a ficar vermelha. Fechou os olhos com força.

- Fica onde estás, Denario! – Gritou. – Moves-te nem que seja um centímetro e juro por tudo o que é sagrado que acabo contigo!

Ele levantou-se e girou nos calcanhares para olhar para ela. O gerador do campo-de-forças fundido na palma da mão dele ainda estava a piscar.

– Isso não vai resultar, Agente Lenai, - gritou ele. – Não faço a menor intenção de ir contigo.

Um sorriso resplandeceu no seu rosto marcado quando esticou o pescoço para a estudar. Denário Tarse semicerrou os olhos.

– Fere-me, - continuou, - e a criatura que trago comigo morre também. O teu tiro podia abrir a cápsula de suspensão.

- Se calhar vou arriscar.

Anna disparou.

Uma barreira de estática branca apareceu à frente do homem e intercetou a bala dela mesmo no último segundo. O projétil ressaltou e caiu no passeio.

– Rapariga tonta! – rosnou Denario e estendeu a mão.

O campo-de-forças avançou pelos degraus acima. Anna rodou e encostou as costas a um pilar mesmo a tempo de sentir a onda de energia atingir o outro lado. Pedaços de granito caíram no chão.

Anna sentiu contrair-se-lhe o rosto num estremecimento angustiado. Sacudiu a cabeça, frustrada.

– Que a Desolação te leve, Denario! – Sibilou ela. – Os teus truques não te vão servir de nada, desta vez!

Ela levantou a arma.

 - E-M-P!

A superfície polida e preta da pistola refletia as luzes da rua. Os LEDs na lateral do cano iluminaram-se subitamente e ficaram brancos. Se continuasse com sorte, as munições carregadas iriam avariar o gerador dele.

Anna rodou à volta do pilar e levantou a arma.

Desta vez, quando disparou, marcadores brancos dispararam pelo ar e fizeram piscar o campo-de-forças de Denario, quando passaram através dele. O homem cambaleou para trás comprimindo o corpo contra um automóvel estacionado.

Denario cerrou os dentes e o rosto ficou vermelho. Fechou os olhos com força e abanou a cabeça.

– Rapariga idiota! – gritou-lhe. – Pensas mesmo que eu não estava preparado para a tua interferência?

Ele afastou o casaco para o lado e mostrou um grosso colete blindado com três projéteis de fumo esmagados contra o tecido.

– Tenho muitos truques, - disse ele mostrando uma pequena esfera cinzenta na mão esquerda.

Anna sentiu os olhos arregalarem-se.

De repente a esfera começou a flutuar no ar, orientando-se para apontar uma lente para ela, a lente começou a brilhar com uma intensa luz cor-de-laranja. Anna atirou-se para trás de um pilar e agachou-se.

Um feixe de luz cor-de-laranja queimou através do granito, mesmo por cima da cabeça dela, atingindo a parede da frente e estilhaçando a janela que dava para o átrio. Fragmentos de vidro caíram no chão. Quando a luz piscou, o cheiro acre do ar queimado atingiu-a como um soco na cara.

Uma Esfera da Morte! O homem tinha trazido uma maldita Esfera da Morte! Anna tinha que pensar depressa. Se ela saísse de trás do pilar, a maldita esfera ia visá-la e disparar num piscar de olhos. Precisava de tempo.

Anna fechou os olhos.

Anna invocou a ajuda do seu Nassai e produziu uma bolha de distorção temporal, uma esfera de ar ondulante que se formou à volta do seu corpo. O tempo movia-se mais depressa para ela do que para qualquer outra pessoa; aqui, os minutos passavam como meros segundos lá fora.

Infelizmente, a sua mobilidade era limitada. Uma vez no lugar, a bolha não podia ser deslocada, e apesar de a sua superfície não ser permeável a mais nada para além de Anna, ela seria incapaz de escapar.

Anna girou à volta do pilar.

Através do ar ondulante da bolha de distorção temporal, podia distinguir a esfera de Denario como uma mancha cinzenta, amorfa. A esfera estava a tentar reorientar-se, a tentar focar-se nela, mais uma vez.

As suas têmporas começaram a latejar.

Agachada, Anna levantou a arma com ambas as mãos. Semicerrou os olhos enquanto fazia pontaria e depois disparou. Balas brancas brilhantes apareceram para além da superfície da bolha, espiralando, enquanto flutuavam graciosamente pelo ar. Todas a caminho da Esfera da Morte. A dor na cabeça tornou-lhe claro que não podia continuar nesta Curvatura por mais tempo.

Deixou que a bolha rebentasse.

A esfera flutuante foi subitamente desviada de curso com faíscas azuis brilhantes por todo o corpo, enquanto as cargas de EMP lhe avariavam os circuitos. A coisa caiu ao chão, foi aterrar nos degraus e depois explodiu.

Anna levantou a mão para proteger os olhos e estremeceu. Virou a cara à explosão, ignorando o calor.

– Maldito sejas, Denario! – murmurou. – Quando, finalmente, eles decidirem enviar-te para o espaço, eu própria vou carregar no botão.

Ela pôs-se de pé.

Uma enorme marca de queimado decorava, agora, os degraus de cimento. Avistou carros estacionados ao longo do passeio mas nenhum sinal do fugitivo. Não restava dúvida de que tinha conseguido escapar enquanto ela estivera ocupada com o seu brinquedinho. E levava com ele um Nassai prisioneiro. O seu simbionte começou a ficar inquieto perante o pensamento do perigo que corria um dos seus irmãos.

Algo lhe chamou a atenção.

Um raio de luz brilhou no céu noturno, brilhante como um meteoro em queda – um raio de luz que explodiu algures por cima da cidade. O flash foi intenso mas desapareceu num instante. O seu vaivém? Talvez Dex tenha sido abatido. Anna sentiu uma dor aguda na boca do estômago.

Agora estava sozinha.

Capítulo 1

O sol era um disco ardente quase a meio caminho do seu zénite, a enviar ondas de luz que brilhavam em cada janela. Edifícios enormes erguiam-se para fazer cócegas ao límpido céu azul, torres altas de vidro pintado e betão.

Ottawa era uma cidade movimentada a qualquer hora do dia, mas as 10 da manhã - aquela hora alegre quando as pessoas finalmente se instalaram na sua rotina de trabalho - tinha que ser uma das horas mais barulhentas e caóticas do dia. Com todo o tráfego nas ruas movimentadas da cidade, ninguém reparou quando um velho Honda Fit entrou num parque de estacionamento e parou com um estrondo.

Jack Hunter encostou-se ao banco do condutor, fechou os olhos e respirou fundo.

 – Ah, dia feliz… - Levantou ambas as mãos e massajou as têmporas. – Adoro trabalhar apenas com cinco horas de sono.

Uma rápida vista de olhos ao espelho retrovisor confirmou a sua aparência desleixada. O rosto magro e anguloso era marcado por maçãs do rosto altas e olhos azuis brilhantes, o cabelo escuro cortado curto com uma franja despenteada a atravessar-lhe a testa.

– Bem, se queriam que eu tivesse bom aspeto provavelmente não me deviam ter chamado logo a seguir a um turno da noite.

Ele saiu do carro.

Jack usava calças de ganga e uma t-shirt cinzenta com decote em V, cujo tecido se lhe colava às costas com o suor. Oh, adoro o turno da noite… Limpou o suor da testa com as costas da mão. Não há nada como ir contra a própria constituição genética para nos fazer sentir mais como um homem.

O parque de estacionamento era uma folha lisa de asfalto preto a cozer sob o sol ardente de um dia quente de primavera. A sua visão do rio – e os Edifícios do Parlamento ao longo da costa – ficava tapada pelas torres altas de betão em todas as direções, e o barulho era suficiente para o fazer gemer. Pela décima quinta vez desde que se arrastara para fora da cama, Jack reparou que os seres humanos tinham uma forma de construir fábricas de stress para eles próprios.

Avistou um velho carrinho de cachorros-quentes a cair aos pedaços, à esquina da rua. A coisa estava amolgada em vários sítios, a lona amarela que formava um telhado improvisado estava rasgada, mas Jack conhecia o proprietário.

Jack aproximou-se com as mãos entrelaçadas atrás das costas, fechou os olhos e inclinou a cabeça para o homem.

- Ei, Tony, - disse ele com um encolher de ombros, - acha que me consegue arranjar uma dessas salsichas italianas?

O homem atrás do carrinho sorriu abertamente.

 Um tipo com ar rijo, de pele acobreada e bastante cabelo prateado na cabeça, Tony riu-se.

- Às dez da manhã? – disse ele levantando as sobrancelhas. – Miúdo, tu vais ter um ataque cardíaco se continuares assim.

Jack apertou a boca com o punho e deixou escapar uma tosse abafada.

- Quem os vende é você, - informou-o. – Eu sou apenas um cliente leal que manda os seus filhos para a universidade.

- E não é que é verdade? – Tony baixou os olhos para vigiar o grelhador. O fumo subiu e acariciou-lhe o rosto, mas ele ignorou-o. – Ouviu a última história no noticiário?

- Refere-se àquela em que os polícias estão a tentar armar-se em Sherlock para descobrir o que aconteceu lá no edifício Penworth? – Um sorriso irónico surgiu no rosto de Jack. Fechou os olhos com força e soltou uma gargalhada. – Sim, vi. Incluindo a parte em que eles entrevistam um tipo que afirma ter visto um grande laser cor-de-laranja.

- As pessoas acreditam em qualquer coisa.

Tony pegou numa salsicha bem passada com as pinças e depois deixou-a cair dentro de um pão. Estendeu a mão e entregou-a a Jack.

- Bom pequeno-almoço, amigo, - continuou. – Parece-me que vai precisar.

Jack mordeu o lábio e fechou os olhos tentando ignorar a onda de calor no rosto.

- Nem me fale nisso, - disse ele abanando a cabeça. – Prefiro evitar o pensamento de rejeição pelo maior tempo possível.

Durante os últimos três meses, ele tinha-se reunido com um Oficial de Admissões para a Universidade de Ottawa, e cada visita ao escritório de Miss Grimes começava com uma paragem no carrinho de cachorros-quentes de Tony. Durante os últimos três meses, ele tinha procurado alguma brecha que lhe permitisse entrar no curso de Informática da universidade apesar do seu péssimo desempenho no ensino secundário. Com o passar do tempo, tornava-se cada vez menos provável que os seus esforços dessem resultados.

Os estudos sempre tinham sido uma fonte de tédio e frustração para Jack; nenhuma das aulas, durante o ensino secundário, tinha sido muito desafiadora. Assim, com a idade de catorze anos, ele tinha simplesmente deixado de prestar atenção. Uma estupidez - percebia agora - mas tentem fazer com que um jovem de catorze anos perceba isso. Só Deus sabe como o pai dele tinha tentado.

Um ano a fazer trabalhos subalternos que não requeriam uma licenciatura, tinha feito maravilhas pela sua visão da vida.

- Obrigado pelo pequeno-almoço, Tony, - murmurou Jack. – Dizem que um pouco de proteínas é meio caminho andado.

Meteu a mão no bolso das calças de ganga e tirou de lá uma nota de dez dólares com dois dedos e enfiou-a no frasco das gorjetas de Tony quando o homem não estava a ver. Jack tinha muito boa memória e lembrava-se de o outro homem ter mencionado uma filha adolescente. Ela merecia ir para a universidade, tanto como ele.

Talvez ainda mais.

- Talvez devesse arranjar-se um pouco melhor, - disse Tony com um sorriso irónico e corando um pouco. – Para causar boa impressão.

- Zoot-suit, - brincou Jack. – Casaco branco e patilhas de dez centímetros de comprimento.

O pequeno escritório onde Miss Grimes costumava encontrar-se com estudantes em perspetiva estava escassamente decorado. Uma secretária de madeira estava mesmo no centro do chão de mosaicos brancos, banhada pela luz segmentada que entrava pelas persianas da janela ao longo da parede do fundo.

Miss Grimes levantou os olhos quando Jack entrou. O rosto dela era um oval perfeito de pele cremosa emoldurado por caracóis castanhos que lhe caiam sobre os ombros.

- Ah, bom, conseguiu, - murmurou ela. – Sente-se.

Jack entrou na sala.

Sentou-se à frente dela numa velha cadeira de metal, com as mãos dobradas no colo, a esforçar-se por manter uma expressão calma.

- Diga-me que tem boas notícias, - disse ele por fim. – Passei a manhã toda numa ansiedade.

Miss Grimes inclinou-se para a frente e pôs os cotovelos em cima da secretária, depois apoiou o queixo sobre os dedos cruzados.

- Lamento, Jack, - respondeu ela, - estive a ver as diretrizes das admissões e não há nada que se aplique ao seu caso.

A resposta dela atingiu-o como um murro na barriga, tirando-lhe o ar dos pulmões. Portanto. Lá se iam as suas hipóteses de sair da sua existência subalterna.

- Sabe, para referência futura, - disse ele, - este é mesmo aquele tipo de conversa que podemos ter por telefone. Que diabo, uma mensagem chegava.

A mulher pôs uma expressão séria enquanto o estudava, os olhos a tentarem abrir um buraco no crânio dele.

- Não é hora para brincadeiras, - disse ela. – Admito que a pontuação dos seus testes não está muito longe do excelente, mas isso não muda o facto de as suas notas serem fracas.

Ele corou.

- Gostava muito de o ajudar, Jack, - continuou ela num tom mais do que um pouco condescendente. No entanto, Jack tinha que admitir que neste momento, ele dificilmente era um juiz imparcial. – Mas quando um oficial de admissões olha para registos como o seu, a primeira coisa que vê é preguiça.

As respostas-tipo sobre não julgar um jovem pelos erros que cometeu quando tinha catorze anos vieram-lhe à mente, mas quando Jack as considerou, soaram-lhe a falso.

- Mas tem que haver um meio de recurso, - sugeriu ele. – Alguma forma de reverter um erro que cometi quando era demasiado novo para saber o que fazia.

- Porque é que uma escola o deveria aceitar? Honestamente.

Jack inclinou a cabeça para o lado e sorriu abertamente.

- Bem, podemos começar pelo meu perfil no Zoosk, - disse ele levantando as sobrancelhas. – A minha página tem mais de vinte visitantes por dia e eu tenho ótimas fotos.

- Mais uma piada.

- Bem, para ser totalmente honesto consigo, muitas delas são a mesma foto com diferentes fundos editados com o Photoshop. – Ele soltou uma sonora gargalhada que lhe soou amargamente. – Mas ‘Jack vai para o Monte Rushmore’ teve catorze gostos no Facebook.

- Já chega!

Miss Grimes encostou-se para trás na cadeira e cruzou os braços. Apertou os olhos e aguentou o olhar dele.

- Já tive que chegasse, - disse ela. – Se você se recusa a levar isto a sério, não posso ajudá-lo.

Ele ficou a olhar para o colo por um longo momento, a molhar os lábios e a tentar conter as lágrimas.

- Desculpe. – Esfregou o nariz com as costas da mão. – Vou-me embora.

- Jack.

Quando ele levantou os olhos, Miss Grimes tinha uma expressão compreensiva.

- Pode tentar um dos cursos de uma universidade comunitária. Vai ser difícil uma vez que os estudantes do secundário têm prioridade sobre os que vêm da universidade comunitária, mas podia tentar.

- É um bom conselho, minha senhora, - respondeu Jack. – Vou tê-lo em consideração. – E dito isto, não havia mais nada a dizer, por isso ele deixou o escritório de coração pesado e um sentimento de culpa que lhe roía as entranhas. Não devia ter sido tão impertinente com a mulher; ela estava só a tentar ajudar.

Não, Jack Hunter tinha-se metido nesta trapalhada – ele e mais ninguém – e agora era ele quem tinha que suportar o fardo. O fardo era dele e de mais ninguém. Exatamente, como é que devia contar à irmã sobre este último revés?

O corredor no sétimo andar conduzia a uma escada a um canto, com o chão de mosaicos brancos baços e gastos em muitos sítios. Luzes fluorescentes tremeluziam no teto produzindo um zumbido suave.

Jack encostou-se à parede e cruzou os braços. Inclinou a cabeça para trás e olhou para o teto.

 – Agora conseguiste, rapaz, - murmurou para si. – Não obstante todas as probabilidades, ainda encontraste outra forma de irritares os teus superiores.

Que os céus o ajudassem.

Alison Em Edimburgo

Alison Em Edimburgo

Terra das Sombras

Terra das Sombras